A instabilidade política em Viamão ganhou novos capítulos após uma sessão extraordinária marcada por debates acalorados, ataques pessoais e questionamentos jurídicos envolvendo a tentativa do prefeito Rafael Bortoletti (PSDB) de aprovar um empréstimo de R$ 27,9 milhões junto ao Banco do Brasil. A proposta, inicialmente aprovada em 6 de novembro, foi barrada pelo Ministério Público, que declarou inconstitucional a lei municipal que autorizava a operação.
Com a anulação, o Executivo reapresentou o tema por meio do Projeto de Lei 178/2025, tentando reabrir a porta para contratar os recursos. A nova tentativa, no entanto, desencadeou um confronto direto entre vereadores da base e oposição, reacendendo tensões políticas que já vinham se intensificando nos últimos meses.
Vereador Leandro Bonatto denuncia “manobra” e questiona urgência
O vereador Leandro Bonatto (PSDB) — filho do deputado estadual Professor Bonatto (PSDB/RS) — foi um dos primeiros a contestar o rito acelerado adotado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Pox (Podemos). Ele afirmou que o pedido de urgência teria como justificativa um ofício enviado pelo gabinete do prefeito, mas que não atendia aos requisitos legais previstos para a tramitação de projetos urgentes.
Segundo Leandro, isso caracterizaria uma nova tentativa de atropelar o processo legislativo.
“Desde o início apontamos ilegalidades, e o Ministério Público confirmou. O nosso papel é fiscalizar a correta aplicação dos recursos públicos”, declarou, mencionando inclusive que foi procurado por fornecedores alegando atrasos nos pagamentos — um sinal de desequilíbrio financeiro na administração.
Base governista tenta blindar o prefeito
O vereador Dieguinho Santos (PSD) saiu em defesa do Executivo, alegando que o empréstimo serviria para “organizar as contas da Prefeitura”, apesar de o projeto não apresentar detalhamento da aplicação dos recursos. Ele antecipou voto favorável, dizendo acreditar que o prefeito “precisa ter a oportunidade de mostrar mais serviço”.
O presidente Rodrigo Pox também usou a tribuna para rebater as acusações de “manobra”, chegando a citar, de forma indireta, o deputado Professor Bonatto. A fala foi interpretada como uma tentativa de transferir responsabilidades ao passado, gerando reações da oposição.
Gutierres e Leandro reforçam ilegalidade; pedido de vistas é anunciado
O vereador Thiago Gutierres (PSD) lembrou que, em outras gestões, projetos relevantes passaram por debate e análise, ao contrário do que estaria ocorrendo agora. Nesse momento, Leandro Bonatto pediu uma parte para anunciar que solicitariam vistas do projeto, justamente por causa da atropelada condução da votação.
Plinio Konig ironiza e compara votações, mas ignora apadrinhamento político
O vereador Plinio Konig (PSDB) também ocupou a tribuna em defesa do governo. Em tom irônico, afirmou que o “líder do projeto” teria sido legitimado pelas urnas e que não seria um “coronel”, numa indireta ao deputado Professor Bonatto.
Plínio ainda tentou comparar a votação que elegeu Bortoletti com as votações obtidas por Bonatto, alegando que o atual prefeito conquistou quase 20 mil votos de vantagem — apesar de o então candidato ser praticamente desconhecido do eleitorado antes de ser apadrinhado politicamente pelo próprio Bonatto.
Nilton Magalhães quebra o silêncio e acusa atual gestão de distorcer números
Em meio ao caos político, o ex-prefeito Nilton Magalhães divulgou uma nota contundente, contestando a narrativa da atual administração sobre dificuldades financeiras.
Magalhães afirma que deixou as contas “em situação estável”, com superávits recorrentes, investimentos acima dos mínimos legais — especialmente na saúde — e condições para que o novo governo honrasse seus compromissos iniciais. Ele também estranhou que alguns dos atuais secretários sejam os mesmos que assinaram o relatório de transição atestando a boa saúde fiscal da Prefeitura.
Além disso, atacou diretamente o pedido de empréstimo de R$ 27 milhões:
“Essa conta não fecha. Se esse empréstimo for contratado, comprometerá a arrecadação de Viamão pelos próximos dez anos.”
O ex-prefeito ainda fez um apelo para que o governo Bortoletti “olhe para o para-brisa e não para o retrovisor”, reforçando que governar exige foco no futuro, transparência e prudência — valores refletidos em princípios bíblicos de boa administração (Lucas 14:28: “Quem é que, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa…?”).
Cenário político segue tensionado
Os últimos acontecimentos deixam claro que a crise envolvendo o empréstimo não é apenas financeira ou jurídica — é política. Os embates revelam um governo enfraquecido, uma Câmara dividida e uma população cada vez mais atenta.
A sessão extraordinária não apenas expôs divergências internas, mas levantou dúvidas sobre os rumos da administração Bortoletti e sua capacidade de manter estabilidade institucional diante de um cenário que se agrava semana após semana.













